Mais uma denúncia de negligência médica envolvendo o Hospital Regional de Patos Dep. Janduhy Carneiro já está sendo investigada pelo Ministério Público do Estado, bem como pela própria direção do Hospital Regional de Patos.
A família do senhor José Pereira dos Santos, de 69 anos, residente em Imaculada-PB, acusa o HRP de ter negligenciado a situação grave a qual o paciente estava acometido de AVC (Acidente Vascular Cerebral isquêmico), fato este ocorrido na última quarta-feira (20 de novembro) quando ele estava em sua cidade.
Seu José foi trazido às pressas pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU 192), já devidamente regulado para Patos. Aqui chegando, por volta das 19h, foi levado para urgência e colocado em uma maca de onde só saiu quatro dias depois, sem se alimentar, e com outros problemas, denunciados por sua filha Flávia Pereira dos Santos.
A sua filha informou que tão logo ele deu entrada, foi feita tomografia a pedido da médica que estava de plantão. Ela ainda contou: “Que após a tomografia o paciente ficou em uma maca localizada na área de urgência até o dia 23 de novembro de 2024, por volta de 13h, quando só aí foi disponibilizado leito em enfermaria. Que além de tudo o paciente era diabético e fazia uso diário de insulina, mas o hospital não tomou as precauções para aplicação do medicamento.”
Flávia contou a nossa reportagem ainda “que teve que passar todo esse tempo segurando a cabeça do paciente, pois ele perdeu movimentos e não conseguia se segurar na maca. Que o leito só foi disponibilizado após a sua filha falar com "pessoas influentes" de fora do hospital. Nesse tempo em que o paciente ficou no hospital ele ficou sem comer e beber água o tempo todo, pois não conseguia engolir.”
De acordo com ela que se mostra revoltada com o caso, “no dia 21 novembro o médico neurologista viu o resultado da tomografia e passou um anticoagulante injetável e um medicamento para diabetes em comprimido, mas a noticiante relatou que ele não conseguia engolir e nada foi feito pela equipe. “O hospital tentou inserir sonda para alimentação por três vezes, mas não conseguiram, informando que outra tentativa seria feita na segunda, dia 25/11/2024, por endoscopia, mas o paciente não resistiu até lá. Essa fala da endoscopia foi no sábado de manhã, dia 23/11/2024, por parte do médico que estava de plantão, que não sabe informar o nome. Que nesse momento perguntou se não seria possível transferir seu pai para outro hospital, como o Metropolitano de Santa Rita/PB, mas recebeu a resposta que não havia necessidade, pois ele já estava sendo tratado. Que o paciente apenas recebeu um soro glicosado no dia 21 de novembro, durante a noite, e um soro fisiológico comum, no dia 23 de novembro, durante a tarde”, relatou a filha de seu José.
Os relatos ainda seguem numa sucessiva flagrância de provável negligência. Segundo Flávia, “ao dar entrada na enfermaria, no dia 23/11/2023, por volta de 15h, o exame de glicose do seu pai apontou um resultado "HI", acima da capacidade de medicação do aparelho, tendo sido aplicada insulina para controle. A insulina foi aplicada pelas próprias enfermeiras, sem supervisão médica. E que por volta de 19h, conferiram novamente a glicose e estava em 540, com mais uma hora depois, estava em 506. Por volta das 21h30 as enfermeiras colocaram uma sonda nasal de oxigenação no paciente, pois ele estava cansado. Mediram temperatura, saturação de oxigênio e pressão arterial, e em todas essas vezes, Flávia disse que solicitou que fosse chamado um médico, pois via a piora de seu pai, mas as enfermeiras informaram que não havia necessidade, pois não era um quadro que precisava de uma intervenção médica. Depois disso o estado de saúde de seu pai só piorou, culminando com a falta de ar pela madrugada e parada da respiração. Nesse momento a noticiante interrompeu o descanso noturno das enfermeiras e disse que ele não estava respirando, sendo que apenas nesse momento foi chamado um médico. Que quando o médico chegou já atestou o óbito e reclamou com as enfermeiras que deveria ter sido chamado desde mais cedo, que aquilo não podia acontecer. Que percebeu que as enfermeiras sentiam receio de avisarem os médicos sobre os estados dos pacientes, pois temiam alguma forma de repreensão.”
A denunciante afirmou que a omissão no atendimento culminou na morte de José Pereira, que poderia ter sido evitada com medidas básicas de assistência.
Segundo ela, a urgência do HRP é um local totalmente inadequado para permanência de pacientes tendo sido registrado diversos outros problemas que podem até comprometer ainda mais a saúde deles. Inclusive, existe uma placa onde consta que os pacientes só podem permanecer no local no máximo 6 horas.
Certidão de Óbito
A cidade de Imaculada está não só consternada com os fatos, como também, toda a narrativa gerou um sentimento de revolta na população já que seu José, membro da Igreja Ação Evangélica, era uma pessoa bastante conhecida na cidade e bem quisto.
"Infelizmente, essa situação resultou em seu falecimento, uma tragédia que poderia ter sido evitada caso houvesse atendimento adequado. [...] A negligência por parte da equipe hospitalar infringe os direitos humanos básicos e os preceitos éticos que devem nortear o serviço de saúde, além de contrariar as garantias estabelecidas pela Constituição Federal, que assegura o direito à saúde para todos", desabafou Márcia Maria Feitosa Pereira, outra parente do paciente.
Todos esses relatos de negligência de tratamento recebido foram feitos pela própria junto ao Ministério Público Estadual em Notícia de Fato 040.2024.005105 formulada nesta manhã de terça-feira (26).
A família agora pede que todos os fatos sejam devidamente apurados e os responsáveis punidos.
A Ouvidoria do HRP também recebeu prontamente a denúncia para as devidas investigações.
O OUTRO LADO
Em nota oficial enviada à redação do Portal 40 Graus, a direção clínica do Hospital Regional de Patos confirmou que houve falhas no atendimento ao paciente e anunciou a abertura de uma sindicância interna para apurar os fatos e as responsabilidades dos profissionais envolvidos.
"De fato, a direção técnica da unidade já identificou que houve falhas no atendimento a esse paciente que, infelizmente, evoluiu para o óbito, e já determinou que fosse aberta uma sindicância interna para apurar os fatos e conduta dos profissionais para responsabilizar quem foi negligente no atendimento a esse paciente.
No entanto, a direção técnica ao mesmo tempo em que se solidariza com a família do Sr. José Pereira, pontua que não se pode generalizar um fato isolado e lamentável como esse, em detrimento de todo um serviço que cotidianamente e diuturnamente salva vidas."