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Reunião para matar Moraes ocorreu a 350m da casa dele

Por O Globo    Quarta-Feira, 20 de Novembro de 2024


A reunião de 12 de novembro de 2022 na casa do general Walter Braga Netto para discutir um atentado contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes ocorreu apenas a 350 metros de onde vivia o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília.

Na época dos fatos investigados pela Polícia Federal, Walter Braga Netto morava numa quadra vizinha à de Moraes, a 112 Sul, enquanto o ministro morava na 312. O condomínio de Braga Neto é um edifício de apartamentos funcionais do Ministério da Defesa onde também viviam outros generais importantes do governo Bolsonaro, como o ex-ministro Paulo Sérgio Nogueira (Defesa) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo).

Foi ali que um grupo de kids pretos, como são chamados os homens das Forças Especiais, se reuniu na noite do dia 12 de novembro para discutir detalhes do plano para “neutralizar” Moraes, Lula e o vice-presidente Geraldo Alckmin. Pouco mais de um mês depois, em 15 de dezembro, um dos militares destacados para a missão voltou ao local para o que a PF suspeita que tenha sido uma campana sobre a casa do ministro do Supremo, a 350 metros dali.

Alexandre de Moraes tinha residência em Brasília um apartamento em uma quadra vizinha, na 312 Sul, bloco K – tanto o relatório da PF quanto a decisão do próprio ministro que autorizou a operação mencionam explicitamente o endereço.

Segundo a equipe da coluna apurou, mesmo sob ameaças, Moraes deixou as menções ao endereço serem divulgadas à imprensa, porque já não mora mais lá.

O ministro teria se mudado para outra quadra na mesma região, mas o assunto é tratado com a máxima discrição no Supremo diante do risco à segurança dele e seus familiares, que se intercalam entre Brasília e São Paulo.

Interlocutores de Moraes, no entanto, garantiram ao blog que a troca no endereço do ministro não está relacionada à nova linha de investigação, que levou à prisão de quatro militares e um policial federal envolvidos na trama para matar Lula, Alckmin e Moraes e impedir a posse do presidente eleito após a apertada derrota de Jair Bolsonaro na eleição de 2022.

Braga Neto também deixou de morar ali, no ano passado, quando se mudou para o Rio de Janeiro.

 

Encontro combinado

 

Uma mensagem encaminhada pelo ex-ajudante de ordens Mauro Cid ao major Rafael de Oliveira combinou o encontro na 112 Sul na residência de Braga Netto.

Após o encontro, a Polícia Federal aponta que Rafael Martins de Oliveira enviou a Mauro Cid um documento em formato word, intitulado “Copa 2022”, contendo as necessidades iniciais de logística e orçamento de gastos para o atentado, que deveria ocorrer em 15 de dezembro.

Naquele mesmo dia, o plenário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), presidido por Moraes à época, confirmou a multa de R$ 22,9 milhões imposta ao PL, partido de Bolsonaro, por questionar sem provas o resultado das eleições presidenciais.

Em um diálogo de 15 de dezembro obtido pelos investigadores, Rafael de Oliveira conversa com um contato no WhatsApp intitulado “Gana” – na época, os golpistas utilizavam como codinomes alguns países que disputavam a Copa do Mundo naquele mês. “Gana”, cuja identidade não é revelada no relatório, havia ido pro final da Asa Sul, justamente onde morava Moraes.

Naquele dia, integrantes do grupo se deslocaram para pontos específicos da capital, como um restaurante próximo ao Parque da Cidade e a quadra no final da Asa Sul.

“As mensagens trocadas entre os integrantes do grupo ‘Copa 2022’ demonstram que os investigados estavam em campo, divididos em locais específicos para, possivelmente, executar ações com o objetivo de prender o ministro Alexandre de Moraes”, diz a PF.

Após algumas mensagens em que informam estar "na posição", às 20h59 daquele dia, um dos usuários do grupo no Signal envia uma ordem para "abortar" e voltar para local de desembarque, já que a sessão do Supremo Tribunal Federal (STF) havia se prolongado até o início da noite.

“Irmão, ainda não achei, cara. Mas tô...quase chegando no shopping aqui agora. No Pátio Brasil. Andei a Asa Sul inteira. Pô, se não tiver no shopping aí eu desisto, cara”, afirmou “Gana” a Rafael de Oliveira.

“O local inicial, onde a pessoa com o codinome ‘Gana’ estava para cumprir a ação planejada, reforça que os investigados estavam executando um plano para, possivelmente, prender o Ministro Alexandre de Moraes no dia 15 de dezembro de 2022”, conclui o relatório da PF.

“As condutas vinculadas ao evento, antes e, principalmente, no dia da ação indicam que pessoa com alta capacidade técnica e conhecimento militar ‘saíram à campo’ para executar um plano totalmente antidemocrático de prisão, ou, quiçá, execução do ministro Alexandre de Moraes.”

O inimigo, literalmente, morava ao lado de Moraes.

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