As investigações da Polícia Federal sobre uma trama golpista para impedir a posse de Lula mostraram que o então presidente Jair Bolsonaro tinha conhecimento da elaboração de uma carta direcionada ao Comando do Exército para pressionar a adesão à intentona golpista.
A PF chegou a essa conclusão após analisar mensagens trocadas pelo tenente-coronel Mauro Cid, então ajudante de ordens de Bolsonaro, com o tenente-coronel do Exército Sergio Ricardo Cavaliere. Em depoimento, o ex-ajudante de ordens também confirmou que Bolsonaro tinha conhecimento da elaboração da carta.
A PF concluiu que, antes mesmo de a carta ser finalizada e divulgada, Bolsonaro já sabia de sua existência. Isso fica claro em uma troca de mensagens entre Mauro Cid e Cavaliere. Na conversa, Cavaliere pergunta “01 sabe disso?”. E Mauro Cid responde: “Sabe...”.
“As trocas de mensagens evidenciam que a confecção e disseminação da Carta com teor golpista, assinada por oficiais do Exército era de conhecimento e anuência do então presidente da República Jair Bolsonaro, sendo uma estratégia para incitar os militares e pressionar o Comando do Exército a aderir a ruptura institucional”, afirma a PF.
A intitulada “Carta ao Comandante do Exército de Oficiais Superiores da Ativa do Exército Brasileiro” tinha como objetivo pressionar o então comandante do Exército, Freire Gomes, a aderir ao golpe de Estado para manter Bolsonaro no poder, mesmo após a derrota nas eleições presidenciais de 2022.
Após a disseminação interna do conteúdo da carta, Cavaliere encaminha para Mauro Cid uma mensagem atribuída ao comandante militar do Sul, alertando que "a adesão a esse tipo de iniciativa é inconcebível".
“Espero que o PR não se esqueça dos que estão indo para o sacrifício”, escreve Cavaliere a Mauro Cid.
Mauro Cid envia então um áudio para o colega, confirmando que Bolsonaro tinha pleno conhecimento da situação.
“Cara, ele mesmo sabe o que é isso, né. Ele tomou vinte dias de cadeia quando era Capitão, porque escreveu carta à Veja. Foi pra Conselho de Justificação porque botaram na conta dele aquela, aquela operação pra, pra explodir Guandu, né. Se fodeu a vida toda. Então, ele sabe o que que é”, diz Cid.
O comentário é uma referência à prisão de Bolsonaro na década de 1980, quando a revista Veja revelou que ele tinha um plano que previa a explosão de bombas em quartéis e outros locais no Rio em protesto aos baixos salários nas Forças Armadas.
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