Atendendo sugestões de amigos e leitores, e por este tema estar em pauta, certamente por ser um dos assuntos abordados em uma das telenovelas da Rede Globo de Televisão, acho importante voltar a ele.
Os Esteróides Anabolizantes Androgênicos (EAA), mais conhecidos por anabolizantes ou “bombas”, são formas sintéticas (artificiais) do hormônio testosterona.
A testosterona é o mais potente hormônio esteroide anabólico androgênico secretado pelo organismo humano. Ela é sintetizada a partir do colesterol, servindo para estimular o crescimento muscular, ósseo, promover as características sexuais masculinas, aumentar a força, a libido etc.
Em relação ao uso clínico terapêutico, sua principal função é, exatamente, a reposição da testosterona, isto naqueles casos em que, por algum motivo patológico, o paciente apresente deficiência deste hormônio. Contudo, o seu uso indevido e indiscriminado pode trazer sérios prejuízos ao organismo dos usuários, e isto tem preocupado as autoridades sanitárias no Brasil e no mundo.
Um dos fatores que, segundo alguns estudiosos, contribuiu para o aumento do consumo indiscriminado destas substâncias é que, durante as últimas décadas, a imagem idealizada para um corpo masculino mudou para um indivíduo com maior desenvolvimento muscular, como o de competidores bodybuilders, modelos fitness, bonecos de brinquedos e filmes com personagens musculosos etc. Como esses esteroides têm esta capacidade de aumentar de forma rápida a massa muscular, muitos praticantes de atividades físicas, desportistas, atletas profissionais ou amadores, e também não atletas, têm feito uso indevido destas substâncias no afã da conquista de uma melhor performance e ou aparência física.
Contudo, os especialistas são unânimes em afirmar que o uso inadequado, abusivo e ou prolongado dos EAA, de forma genérica, pode levar a desordens cardiovasculares, endócrinas, neurológicas, gastrointestinais, renais, hematológicas, hepáticas, sexuais, dentre outras, reversíveis ou não, em curto ou longo prazo.
Assim, e de forma mais específica, a literatura médica enumera entre os principais efeitos nocivos que podem ser provocados pelo uso indevido do hormônio em comento, os seguintes: variação do humor (agressividade e raiva incontroláveis); ciúme patológico; tremores; acne severa; retenção de líquidos; dores nas articulações; aumento da pressão sanguínea; HDL (bom colesterol) baixo; icterícia (pele amarelada); tumores no fígado, pâncreas etc. Além destes, outros mais graves podem ocorrer, seja com homens ou mulheres. Nos homens os mais comuns são: a diminuição dos testículos, redução do número de espermatozoides, podendo causar infertilidade, a impotência sexual; calvície; desenvolvimento desordenado das mamas (ginecomastia); dificuldade ou dor ao urinar; aumento da próstata etc. Já nas mulheres, é frequente o surgimento de características masculinas, sendo importante acrescentar que atualmente um dos hormônios que têm sido propagandeados por “tiktokers fit” é a oxandrolona, para fins estéticos com foco específico no público feminino. Esta substância pode causar nas mulheres usuárias efeitos como: aumento do clitóris, engrossamento da voz, crescimento de pêlos faciais (barba), diminuição dos seios, diminuição ou ausência do ciclo menstrual, queda de cabelos etc.
É importante acrescentar que todos os estudos são categóricos em afirmar que, as pessoas saudáveis, com dietas adaptadas e prática regular de exercícios físicos não precisam desses hormônios para melhoria de resultados. Os EAA são da classe dos ergogênicos farmacológicos, portanto, não são considerados nutricionais. Em relação aos nutricionais estão, por exemplo: o Whe Protein, os aminoácidos de cadeia ramificada BCAA), a creatina, a cafeína, dentre outros. Estes, segundo afirmam os profissionais de saúde, podem ser usados no pré-treino, durante e pós-treino, e auxiliam muito no ganho de massa muscular, na diminuição da gordura corporal, na recuperação da fadiga muscular e na melhoria da capacidade aeróbica. Mesmo assim, a recomendação é que estes sejam usados de maneira individualizada e sob a orientação de um profissional de saúde capacitado.
Ainda de acordo com um estudo recente do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas de São Paulo, os usuários abusivos de anabolizantes apresentam maior risco de formação de placas nas coronárias, comprometendo o fluxo sanguíneo e o suprimento de oxigênio. Essas complicações levam geralmente a aterosclerose, podendo causar problemas como AVC e ataque cardíaco.
Outro aspecto a considerar é que o uso indevido dessas substâncias por adolescentes poderá provocar uma maturação esquelética prematura, com puberdade acelerada, podendo levar ao raquitismo.
Assim, considerando os efeitos deletérios do uso indevido dos esteroides anabolizantes, o CFM publicou desde o ano de 2023, a Resolução nº 2333, que veta a prescrição médica de terapias hormonais com esteroides anabolizantes e androgênicos com finalidades e/ou visando a melhora do desempenho esportivo.
A resolução também proibiu a realização de cursos, eventos e publicidades que tenham como objetivo estimular o uso ou fazer apologia de possíveis benefícios dessas terapias androgênicas com as finalidades já acima descritas. Antes de usar é conveniente, portanto, se informar. A boa informação não faz mal!
Contudo, o CFM reforça que continua válido e nada muda, em relação às indicações dos hormônios anabolizantes já anteriormente previstas na literatura médica, como por exemplo, no tratamento de doenças como hipogonadismo (deficiência androgênica), puberdade tardia, micropênis neonatal e caquexia (enfraquecimento). Podem também ser indicados na terapia hormonal cruzada em transgêneros e, a curto prazo em mulheres com diagnóstico de desejo sexual hipoativo.
Assim, vamos viver a vida em toda a sua plenitude, mas de forma natural e saudável, sem a maquiagem momentânea e deletéria de substâncias artificiais que podem até embelezar, segundo alguns padrões, mas que podem “explodir” a saúde dos usuários.
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