Ídolo do clube e com uma carreira muito vitoriosa enquanto jogador, Filipe Luís tem grande oportunidade de começar com o pé direito a trajetória como treinador no futebol profissional. Se o Flamengo superar o Atlético-MG na decisão da Copa do Brasil, ele se tornará o técnico que precisou de menos jogos para ser campeão pelo Rubro-Negro no século 21.
Caso faça valer a boa vantagem que o Flamengo tem e confirme o pentacampeonato, Filipe levantará seu primeiro troféu como técnico de um time profissional em apenas nove jogos. Com tal marca, ele supera Ney Franco, que conquistou a mesma Copa do Brasil em 2006, contra o Vasco, em sua partida de número 12 à frente do Rubro-Negro.
Ney Franco e Filipe Luís foram contratados com a mesma missão: ganhar a Copa do Brasil, objetivo mais factível para Flamengo tanto em 2006 quanto em 2024. Mas as diferenças são significativas. Ney chegava seis dias após ser eliminado pelo próprio Fla, na semifinal da competição nacional. O mineiro dirigia o surpreendente Ipatinga, que fez uma série dura com o Rubro-Negro, mas acabou caindo após empate por 1 a 1 no Ipatingão e vitória dos cariocas por 2 a 1 no Maraca.
Diferentemente de Filipe, Ney não tinha um elenco estrelado, e o clube enfrentava constantes problemas financeiros. Outra diferença em relação ao ex-lateral é que o mineiro chegava focado na disputa da final, enquanto o ídolo foi promovido a treinador do time profissional antes das semifinais da Copa do Brasil, contra o Corinthians.
Filipe Luís em Flamengo x Atlético-MG — Foto: André Durão
Antes da finalíssima da Copa do Brasil contra o Vasco, marcada para 26 de julho de 2006, o Flamengo teria pela frente mais sete jogos de Campeonato Brasileiro e a primeira partida da decisão diante do rival. Acabou tendo mais. Como havia a pausa pela Copa do Mundo, a diretoria rubro-negra marcou três amistosos, dois no Norte, contra Fast Clube (AM) e Seleção de Roraima (RR), e um no Nordeste, diante do Combinado Maranhão/Moto Clube.
Os resultados não foram expressivos, o Flamengo bateu Fast e Combinado Maranhão/Moto Clube, ambos por 3 a 2, e empatou com a Seleção de Roraima. Mas o período foi suficiente para Renato Augusto, uma aposta do vice de futebol, Kleber Leite, voltar ao Rio de Janeiro com dois gols na bagagem e a titularidade assegurada. Isso com apenas 18 anos. A pausa também foi boa para Léo Moura, peça fundamental do time, se recuperar de uma lesão.
A volta da excursão não foi boa, e o Flamengo foi goleado pelo Paraná em Volta Redonda (4 a 1) e depois perdeu para os reservas do Vasco (1 a 0) em 16 de julho, três dias antes da primeira partida da Copa do Brasil.
A fim de explorar o potencial ofensivo de Léo Moura e Juan, dois laterais muito agudos e que se consolidariam como figuras do clube nos anos seguintes, Ney Franco armou um inédito e surpreendente 3-6-1. Testou o sistema em treinos secretos realizados no Ninho do Urubu, que tinha estrutura muito aquém da atual e cujas dependências eram raramente utilizadas pelo time profissional.
- O Flamengo nunca tinha jogado daquela forma, e foi essencial fazermos alguns treinos secretos. Conseguimos fazer isso num momento em que o Ninho do Urubu não era utilizado pela equipe principal do Flamengo. Na Gávea, seria impossível fazer um treino fechado. Na época, era inadmissível um clube do tamanho do Flamengo realizar treinos sem a presença da imprensa. E a gente fez isso - afirmou Ney Franco em entrevista ao ge em 2022.
Foi a campo com a linha defensiva formada por Renato Silva, Fernando e Ronaldo Angelim, com liberdade total a Léo Moura e Juan. O Flamengo, que tinha sofrido gols nas cinco partidas anteriores à decisão, portou-se muito bem diante do rival. Mas a mudança do 3-6-1 para o 4-4-2 foi fundamental para o time melhorar no ataque e praticamente encaminhar o bicampeonato da Copa do Brasil, competição que havia vencido somente em 1990.
Renato Silva se machucou aos 11 minutos e deu lugar a Obina, que entrava para formar dupla de ataque com Luizão. Aos 14, o baiano abriu um placar num lindo sem-pulo após cobrança de escanteio de Renato Augusto. Aos 17, Luizão testou com perfeição cruzamento de Léo Moura e fechou o placar.
Entre os dois jogos da decisão, o Flamengo teve um duelo com o Santa Cruz, mas os titulares e Ney Franco ficaram no Rio de Janeiro - o auxiliar Moacir Pereira o representou na derrota por 3 a 0 no Arruda. Na partida derradeira contra o Vasco, Ney Franco repetiu o 3-6-1, agora com Rodrigo Arroz no lugar de Angelim, e o Rubro-Negro, após fazer 1 a 0, apenas administrou o resultado e garantiu mais uma conquista em cima do arquirrival.
Ney Franco, Sávio, Obina e Luizão Treino Flamengo 2006 — Foto: Agência o Globo
A exemplo de Ney Franco, Filipe Luís também preparou uma surpresa para a primeira final da Copa do Brasil, de 2024, armou o Flamengo num inesperado 4-3-3 e conseguiu vitória expressiva: 3 a 1 sobre o Atlético-MG. Com uma estrutura ofensiva muito forte, o Rubro-Negro não deixou o Galo predominar em nenhum momento da partida, e o resultado poderia ter sido ainda mais elástico.
Apesar do sistema voltado ao ataque, o Flamengo se defendeu muito bem, tanto com os jogadores responsáveis pela marcação quanto com a ajuda dos atacantes na recomposição.
Jogador histórico do Flamengo, Filipe começa o preparo para, quem sabe, iniciar uma nova história de títulos dentro do clube do coração, agora à beira do gramado.
Ney Franco: 6V, 2D, 2E
Filipe Luís: 5V, 2E e 1D