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Especialista no mercado brasileiro e apreciador de talentos: o que esperar de Boto no Fla

Por Globo Esporte    Domingo, 15 de Dezembro de 2024


Enquanto não viaja ao Brasil para começar de fato o trabalho como diretor de futebol do Flamengo, José Boto iniciou à distância os estudos, contatos e participação no planejamento rubro-negro para 2025. O dirigente português se sente à vontade no mercado brasileiro.

Ele ainda tem agenda a cumprir com o Osijek, da Croácia, e o combinado é que chegue ao Rio de Janeiro depois do Natal para assumir o futebol do Flamengo. A adaptação não deve ser problema.

Quem acompanhou a carreira de Boto de perto nos últimos anos o classifica como especialista no mercado brasileiro, o que condiz com sua atuação como scouting. Ele foi responsável pela contratação de vários jogadores do país nos últimos anos.

- Do ponto de vista cultural ele conhece muita coisa porque já foi ao Brasil muitas vezes, são muitas viagens ao Brasil, desde quando trabalhava no Benfica. Tem um contato muito forte com o mercado brasileiro e conseguiu contratar muitos talentos do Brasil. Acredito que dessa rede de contatos possa ter surgido a relação com a nova diretoria do Flamengo. Ele não vai ficar surpreso com nada, a forma como a torcida e o ambiente em torno do futebol gira. É um especialista no mercado brasileiro - disse, ao ge, Blessing Lumueno, auxiliar técnico do Chaves, de Portugal, e amigo de Boto.

Quando Boto deixou o Shakhtar Donetsk, ao fim de 2022, o elenco do clube ucraniano tinha 12 jogadores brasileiros - no ano passado, ele revelou em entrevista a um canal de youtube português (veja mais abaixo na matéria), ter grande rede de contatos no Brasil. Os outros estrangeiros do Shakhtar eram um de Portugal e um de Burkina Faso. O restante do plantel era formado por atletas ucranianos, o que ajuda a explicar outra característica do dirigente: a aposta na base.

- Ele é um apreciador de talentos e sempre apostou no mercado brasileiro, porque acredita que é onde estão os melhores talentos do futebol. Não é alguém que vai mudar toda a concepção do clube, mas alguém que vai apostar no talento desenvolvido dentro do clube e, eventualmente, dentro do Brasil. Aposta muito no desenvolvimento das comissões técnicas das categorias de base para que os jogadores consigam, sem perder aquilo que os tornam diferentes, rapidamente chegar à equipe principal. Além de toda parte de estruturação, acho que ele vai mudar algumas coisas nas categorias de base para que surjam ainda mais talentos - afirmou Blessing.

- Ele consegue trabalhar com todo tipo de mercado. Eu acredito que a grande base dele vai ser no Brasil, porque é o mercado que ele mais gostou de trabalhar e que ele mais acredita. Acredito que a grande força dele vai estar no mercado interno e nas categorias de base, o mercado de fora acho que vai ser exceção - completou o auxiliar técnico.

Um dos contatos de Boto no Brasil é João Paulo Sampaio, coordenador geral das categorias de base do Palmeiras indicado pelo dirigente português ao Flamengo. Bap fez uma proposta ao profissional, que preferiu ficar no time paulista. O futuro diretor de futebol rubro-negro quer alguém para cuidar da base do clube, mas com influência também na estrutura profissional, trabalhando em parceria com ele. É parte do plano de reformulação do departamento, algo que ele liderou por onde passou.

- É a pessoa perfeita para fazer. Foi fazer exatamente isso no Shakhtar. E não só para a equipe principal, o departamento é a equipe principal e as categorias de base. Está habituado a fazer esse trabalho, está muito identificado com reformulação. Certeza que vai rapidamente identificar o que fazer e com quem fazer, a identificação dele com o Brasil vai fazer com que esse processo seja mais rápido e mais estável. Ele adora ver o talento em campo, e acredito que não há lugar que ele possa ser mais feliz que no Brasil - pontuou Blessing.

- Ele vai respeitar muito o trabalho que tem sido feito e ajudar que esse trabalho traga resultados a longo prazo. É provável que todos os anos apareçam jogadores da base na equipe principal. É essa marca que ele deixou em todos os clubes que ele passou - acrescentou.

 

Acertado com o Flamengo, José Boto é classificado como especialista no mercado brasileiro — Foto: Osijek

Acertado com o Flamengo, José Boto é classificado como especialista no mercado brasileiro — Foto: Osijek

José Boto ajuda o Flamengo na montagem da equipe que tocará o departamento de futebol. Além do coordenador da base, o português também vai trazer um profissional de scouting, setor que o consolidou como dirigente na Europa nos últimos anos. O diretor trabalhará com uma equipe reduzida e pessoas com quem ele confia, seguindo o modus operandi dos clubes em que atuou.

O treinador Filipe Luís deverá ter participação ativa no planejamento junto com Boto, ainda mais que, num primeiro momento, a previsão não é de grandes mudanças no elenco. O dirigente costuma ter paciência com os treinadores e apostar em trabalhos mais longevos.

Boto iniciou a carreira como treinador de times do sub-15 ao sub-19, com passagens por equipes portuguesas como Sacavenense, Alverca e Loures. Em 2007 ele foi para o departamento de scouting do Benfica, que estava sendo implementado naquela época, e passou a coordenar a pasta em 2010. Em 2018 foi convidado a chefiar o departamento de scouting do Shakhtar Donetsk. No fim de 2021 assumiu a direção desportiva do Paok, da Grécia, e chegou ao Osijek no ano passado.

 

Como Boto pensa o futebol

 

O dirigente português abordou seu modo de trabalho em uma entrevista ao canal de youtube "Benfica Independente" em 2023. Veja alguns tópicos:

Rede de contatos

- Tenho um networking dentro do futebol, especialmente no Brasil, porque no Shakhtar apostávamos em jogadores muito jovens. Isso cria um nome, uma identidade como diretor diante do mercado. Tenho conversas com muitos treinadores brasileiros, tenho uma rede com muitos treinadores jovens no Brasil, por interesse meu e deles por verem alguém na Europa que trazia jogadores os quais não apostavam neles no Brasil e, depois de seis meses, estavam jogando na Champions League. Isso me dava a vantagem de ter informações privilegiadas sobre muitos jogadores.

Perfil do scout

- Existem três tipos de scout, mas a mim só interessa um. Existe o que tem dúvidas sobre todos os jogadores e o que não tem dúvidas sobre quase nenhum. Eu prefiro o scout que tenha uma convicção plena, mesmo correndo o risco de errar. Gosto que meus scouts mostrem paixão pelos jogadores que eles propõem. Não posso sentir dúvidas naquilo que eles propõem.

Papel do treinador na montagem do elenco

- O que é desafiador no scouting é perceber o que treinador quer, ou o clube. O Shakhtar não dependia de treinador, dependia de uma ideia de jogo do clube. O treinador chegava e se adaptava. Para mim é um erro um clube deixar tudo nas mãos do treinador, porque o treinador é sempre o elo mais fraco. Se um treinador é demitido e você contrata outro com ideias diferentes, vai ter que mexer no plantel e gastar mais dinheiro e transformar ativos em desativos. Isso tem a ver com gestão desportiva.

- O treinador deve estar envolvido, principalmente quando a forma de jogar depende do treinador. Quando você busca um treinador, tem que estudar profundamente as ideias dele e estar preparado para as exigências dele em termos de perfil do jogador. Uma coisa é eu oferecer três jogadores e pedir para ele escolher o preferido, mas aí ele pedir um quarto ou um quinto, isso eu não concordo, não acho que seja bom para o clube. Um bom treinador, profissional, do futebol moderno não tem tempo para conhecer jogador. Minha experiência diz que os jogadores que os treinadores conhecem são os que jogam no campeonato que ele está trabalhando. Eles se sentem mais confortáveis com os jogadores que eles conhecem, os que a gente indica eles não conhecem ou não têm tempo para conhecer. Isso vai depender da gestão desportiva. O treinador quando propõe jogadores não tem conhecimento vasto do mercado como o scout ou o gestor desportivo têm.

 

Atenção com os talentos

- O Shakhtar chegou a ter 14 brasileiros no plantel. Uma das coisas que quis quando cheguei foi olhar para aquilo que tínhamos em casa e foi uma surpresa ver que tínhamos muitos talentos na formação, como o Mudryk que hoje está no Chelsea. No Shakhtar ainda estão o Sudakov e o Bondarenko, que podem ajudar em qualquer clube do mundo.

Organização do departamento de scouting

- Existem várias formas de organizar um departamento de scouting. Primeiro: o que quero? Definir um perfil de jogador, um perfil não só técnico ou tático, mas financeiro, para que eu quero um jogador? Também um perfil de até onde podemos ir. Depois podemos fazer de várias formas, definir os mercados prioritários - de quatro a cinco. Um clube português, por exemplo, mais facilmente chega à Argentina, Brasil, Uruguai, Bélgica, Holanda, aí definimos esses como os principais, o mercado A, e temos que conhecer esses mercados afundo. Depois definimos o mercado B, que não são tão apelativos para nós e não precisamos seguir tão atentamente. Num clube português não preciso conhecer tão afundo o mercado alemão. Não quer dizer que não olhe para esse mercado, mas olho com outros olhos. Num mercado C, as informações vêm de pessoas externas e eu vou checar. Tem que estar atento e ter informações, mas não precisa acompanhar o campeonato israelita. Tem que ter informações nesses países para que elas cheguem rápido e você cheque.

- No Benfica trabalhávamos com quatro, cinco pessoas. Revolucionamos o scouting. Quanto mais rapidamente você fala com a equipe mais rápido se toma a decisão. Tem que ter uma relação de proximidade. Os clubes que fazem os melhores negócios têm estruturas reduzidas.

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