Fui dormir de madrugada só para ver Mike Tyson de volta aos ringues. Sabia que era um espetáculo promovido pela Netflix — aliás, o mundo inteiro sabia. Mas o que importava era que ele estava lá. Talvez fosse sua última aparição, um adeus àquele que sempre será imortal na história do boxe.
Tyson não é só uma lenda, é um Deus. Um homem de músculos de ferro e cicatrizes profundas, que antes fora um demolidor. E mesmo se apresentando apenas uma sombra do que foi, não precisava de reconhecimento, mas talvez de esperança. Algo que o fizesse encarar o futuro sem as amarras do passado.
Ao pisar naquele quadrilátero, ele não buscava a vitória. Mike Tyson foi derrotado por Jake Paul, na madrugada de sábado (16), no AT&T Stadium, em Dallas, Estados Unidos, por decisão unânime dos juízes. Sua simples presença já era a própria glória. Do outro lado, seu adversário sabia disso. Estava diante do maior de todos os tempos, e sua postura era de quem venerava mais do que combatia. A cada golpe, parecia pedir desculpas. “Foi assim que combinamos, seu Tyson?”
Derrubá-lo era improvável. Não havia por quê. Estar ali, no mesmo espaço que o ídolo supremo de todas as gerações, já era o prêmio. A luta, mesmo coreografada, era digna das noites de sábado. Tyson, um homem cercado por seus fantasmas, adentrava aquele espaço como sempre: simples e louco.
No rosto tatuado da fera, as cicatrizes do tempo. Controverso, polêmico, humano, divino. Era tudo combinado, uma dança cuidadosamente ensaiada. Mas, para mim, era como se fosse a primeira vez. Eu via novamente, com os olhos da minha adolescência inocente, o homem de ferro derrubar os vilões das minhas histórias em quadrinhos.
Sempre foi ilusão, eu sei disso agora. Era tudo parte da indústria do entretenimento. Mas, afinal, o que importa? Assim não o é a própria vida — uma ilusão, moldada e recriada, onde acreditamos porque precisamos acreditar... Para continuar resistindo, mesmo quando o último round já parece perdido?
*Misael Nóbrega de Sousa
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