Quando foi convidado para o cargo de técnico interino da seleção principal, Fernando Diniz sabia que teria um ano de trabalho, com pouco tempo para implementar suas ideias.
O começo ruim nas Eliminatórias, com sete pontos em cinco jogos, e duas derrotas nos dois últimos, poderia até ligar um alerta, não fosse a estratégia parte dos planos da CBF.
A entidade apostou no jovem treinador para implementar novas ideias, promover uma reformulação dentro e fora de campo, até a chegada de Carlo Ancelotti em 2024.
Em cinco partidas, Diniz chamou nomes da era Tite, dos consagrados europeus aos destaques brasileiros, e na última lista ainda ousou mais, com diversos jovens e estreantes.
A questão vai muito além de os jogadores assimilarem os conceitos de Diniz. Passa por dificuldades técnicas e a falta de opções em diversas posições, sobretudo nas laterais e no meio.
Contra a Colômbia, André e Bruno Guimarães estiveram sobrecarregados nas funções de marcação, saída de bola e transição ao ataque. Diniz rodou atacantes e não lançou Veiga, o único da função.
Com quatro atacantes, o Brasil conseguiu ser vertical por 15 minutos, fazer o abafa, mas não teve compromisso tático consistente, o que não permitiu que a equipe fosse compacta.
A facilidade com que o atacante Luiz Díaz passeou entre a defesa brasileira chamou atenção. E ele não foi o único. Bastava uma pressão um pouco maior que meias e atacantes também entregavam.
O setor preocupa e é a grande diferença em relação ao trabalho desenvolvido por Tite em seis anos. O antecessor, porém, teve tempo para isso.
Ou seja, serão necessárias cada vez mais experiências. Testes, improvisos, rodízios de jogadores. A safra é nova, e o modelo de jogo ainda uma incógnita. Com Diniz, os atletas terão que adaptar-se.
Ver Vini Jr poucos minutos por dentro, alinhado a Rodygo, e participativo desde a saída de bola, já foi bom sinal. Os atacantes, a maioria, precisarão entender que terão que desempenhar outras funções.
Pepê improvisado na lateral, Rodrygo na meia, Vini e Martinelli combativos como volantes. Na falta de opções de origem, os talentos serão obrigados a se desdobrar para encontrar espaço no grupo.
A partir de terça-feira, contra a Argentina, a seleção não terá mais jogos oficiais com o interino. Serão dois ou três amistosos em 2024, com menos pressão, até o fim do contrato, em junho.
A tese da CBF de que o que importa é chegar na Copa do Mundo com chance de conquista segue firme, alheia aos resultados iniciais de uma Eliminatória que nunca ofereceu muito risco.
Mas não deixa de ser preocupante ver o Brasil com tantas opções ofensivas sofrer tanto, parecer uma equipe qualquer, sem jogadores capazes de decidir, e com um sistema defensivo frágil.
Haverá tempo para Diniz ajustar o rumo antes de deixar o cargo? Há jogadores para isso? Antes de encarar a Argentina de Messi, campeã do mundo, são perguntas que precisam estar na conta.
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