O Governo decidiu revogar a norma da Receita Federal sobre monitoramento das movimentações financeiras e vai editar uma medida provisória (MP) para assegurar que o Pix não será taxado, como vinha sendo propagado em fake news nas redes sociais. Mas, antes disso, a repercussão negativa e a onda de notícias falsas sobre a fiscalização afetou os hábitos de consumidores que já buscavam formas de reduzir as transações por do meio de pagamento instantâneo.
A aposentada Marília Valinho, de 70 anos, por exemplo, trocou de banco e resolveu que não iria habilitar a chave Pix. Para ela, a norma da Receita Federal poderia abalar o sucesso do meio de pagamento. Ela não é a única, sua irmã, Angélica Valinho, de 62, que a acompanhava, também dividia o receio de fazer transações via Pix.
— Eu não vou entrar nessa de fazer Pix, não. Para mim, não ficou claro pelo sentido de ser algo invasivo. A gente tem que expor tanto a nossa vida, tem até valor estipulado para usar — falou Marília Valinho, antes de saber da notícia da revogação.
A faxineira Maria Margarida da Silva, de 49 anos, fazia compras em uma loja do Polo Saara, no Centro do Rio, nesta quarta-feira. Ela disse que aquela poderia ser uma das suas últimas compras via Pix, pois o dinheiro já estava depositado na conta. Antes da revogação, ela cogitava passar a depositar o dinheiro em uma conta sem chave Pix.
— A gente está sendo vigiado, especialmente nosso dinheiro. Eu vou ter que mudar a forma como pago as coisas. Eu não sei se vou depositar dinheiro nesse cartão para usar como Pix — contou.
Por conta dos boatos, algumas pessoas se mostraram em dúvida no que acreditar. Era o caso do entregador Paulo César Vieira, de 62 anos:
— A gente fica com medo por conta desses boatos. Você nunca sabe o que vai acontecer — disse.
Assim como Vieira, a servidora e artesã Geilce Gomes, de 55 anos, disse que ficou com o pé atrás com a medida, mas estava confiante para o futuro:
— Eu fiquei em dúvida e com o pé atrás sim, mas confiante de que não vai mudar nada.
Diante do receio de consumidores em utilizar o Pix, quem trabalha no comércio já sentia algumas mudanças. O vendedor de amendoim Luciano Custódio, de 48 anos, já percebia uma redução de pagamentos via Pix, que caíram de uma média de R$ 800 por dia para R$ 150 diários. Ele conta que as pessoas ficaram com medo de fazer esse tipo de transferência:
— Todo mundo ficou com medo de fazer Pix. Os clientes estão preferindo pagar em dinheiro. Antes, chegava a fazer R$ 800 por dia só em transações via Pix. Agora, estou fazendo R$ 150.
Já na loja Bella Casa, a gerente Viviane dos Santos, de 41 anos, também percebeu que os clientes nos últimos dias se questionavam se pagariam realmente por meio do Pix. Por lá, até mesmo o modo de usar o pagamento instantâneo mudou: após o anuncio da fiscalização, a ordem foi só aceitar pagamento via Pix pela maquininha de cartão:
— Paramos de aceitar o Pix por código e estamos usando só na maquininha até a gente saber exatamente o que vai acontecer.
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